24.3.15

 


Ninguém taí pra nada


− Ele quer falar com você.
− Quem é?
− Ninguém.
− Como assim, “ninguém”???
− Foi o que ele disse quando perguntei: “‘Eu não sou ninguém’. Mas ele me conhece...”
− Tá sozinho?
− Falou que não precisa de mais ninguém.
− Se fosse vocês, não abria.
− Você não é a gente.
− Que bom. Porque pelo jeito ele veio acertar as contas só com você.
− Ninguém tem nada pra acertar comigo.
− Ele tem.
− Ele é um Zé Ninguém.
− Ah, então você conhece o cara?
− Não, mas com um papinho desse só pode ser um babaca.
− Tá com medo por que então?
− Quem disse que eu tô com medo desse otário?
− Suas mãos tremendo, talvez...
− Eu não devo nada pra ninguém.
− É, tem acerto que já começa errado...
− Ele deve ter se enganado de casa.
− Se errou, se você não deve nada e se não tá com medo, abre logo essa porra!
− Vou abrir.
− Cara, não vai na dele. Não abre essa porta.
− Por quê? O que esse imbecil pode fazer?
− Não sei. Mas ninguém taí pra nada.

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