23.2.10

 
Prometeu acorrentado


Pra você é fácil, né? Fica aí o tempo todo sem fazer nada, enquanto eu me mato na cozinha pra dar o que comer às crianças. Os meninos num têm nem mais força pra chorar de fome. Só fazendo milagre pra cozinhar coisa que preste com a mixaria que você ganha. Minha mãe sempre falava: “marido bom se conhece pelo salário”, mas eu não ouvia. Preferi ouvir as batidas do coração e hoje só escuto choro o dia inteiro. E gente na porta cobrando dívida. E seu silêncio besta de quem não tem o que dizer. Se pelo menos tivesse o fogo de antes na cama... Como pode tamanho sofrimento? Que mal fiz pra tanto castigo? Minha irmã indo pra praia e nós nesta quitinete dos infernos. O bebê tá que é só assadura. Cadê dinheiro pra pomada? Pro ventilador? E a tevê? Já arrumou? Além de perder minha novela tenho que ficar olhando sua cara? E o rádio que tá uma chiadeira só? E a grana do leite?

O cheiro do bife de fígado soca seu estômago e lhe dá náuseas. Ele quer sair, mas a porta está trancada.

9.2.10

 
Absurdamente feliz!!!!!!
(ou A felicidade em tempos de Orkut)


X: Feliz? Não, é pouco.

Y: Todo dia entra na minha página só pra xeretar os recados.

Telefone: (...)

Simpósio: Como já apontava Christopher Lash no livro "A multidão solitária", o homem contemporâneo desvincula-se de suas emoções e acaba se refugiando em simulacros da vida real, conforme observamos...

X: Bem feliz? É. Talvez.

Psicólogo: A dor da separação se equipara ao sofrimento que experimentamos nos casos de luto, pois a falta de convívio com o ser amado acarreta...

Y: Pede pros amigos ficarem me vigiando nas baladas.

Remédio: Venda sob prescrição médica. O abuso deste medicamento pode causar dependência.

X: Bastante feliz? Hum...

Telefone: (...)

Psicólogo: Você precisa aceitar a dor da perda.

Remédio: Podem ocorrer ansiedade extrema, tensão, confusão, irritabilidade e, em casos mais graves, alucinações e convulsões.

X: Absurdamente feliz!!!!!!

Y: Vive pedindo pra gente voltar, não para de ligar e escreve isso.

X: Isso, agora ficou bom!

2.2.10

 
São Paulo Féchiom Uíqui


Dizem que moda. Juntam uns pano esfubangado, uns troços rasgado, feio, sem brilho e dizem que é moda.

Esse mundo é louco mesmo. A coitada da Carminha se matando de trabalhar, fazendo cada vestido bonito de renda, com os bordado tudo combinando, e tá lá naquela quitinete do Brás até hoje. E esses omi daqui (qué dizê, omi é modo de falar, né?) enchendo a buzanfa de grana e com o nariz lá na testa.

E as modelo magrinha com essas perninha de alicate, como é que consegue andar anoréquiça desse jeito? Deus me livre e guarde da Queitilãnny ficar assim. Como é que arruma marido? Quem vai querer apalpá esses ossinho de graveto? E se fica prenha? Como o pobrezinho vai mamá se elas deve ter no máximo meia gotinha de leite? Que deve ser do desnatado. Ontem vi três almoçando uma bolacha de água e sal. Dividida em TRÊS! Deu vontade de reparti minha marmita com elas e falá: ó, isso é que é comida!

Se isso é moda, prefiro meu uniforme. É sem graça, mas ninguém me faz de palhaça.

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