30.5.09

 
Açougueiro de luxo


A última deu um bom abate.
Fiz com que ela ficasse meses acorrentada de quatro, com as costas curvadas pra baixo. Porém, por mais que eu torcesse, não criou cupim; corte que mais aprecio.
Mesmo assim, a textura, o aroma e a maciez das peças foram plenamente satisfatórios, merecendo destaque o filé à parmegiana que fiz do bumbum, usando o queijo que eu mesmo produzi do leite dela. Sim, ela estava grávida. Mas como vitelo não me apetece, acabei dando pro cachorro.
Dos seios, preparei um estrogonofe, uma das minhas especialidades. Modéstia à parte, ficou divino. Um grand finale pro banquete que teve dedinhos à milanesa com risoto de língua como primi piatti.
O problema agora é que o estoque de carnes nobres no congelador está acabando. E cada dia é mais difícil encontrar uma companhia sofisticada que saiba apreciar um bom prato, tenha um paladar refinado, entenda de alta gastronomia e coma com elegância.
E que depois não reclame de ser a próxima a patrocinar o jantar.

19.5.09

 
Minifato XI
(a realidade goleando a ficção)



Gripe suína
- total de infectados no México: 2.895, com 66 mortos.
- total de infectados nos Estados Unidos: 4.714, com 4 mortos.

18.5.09

 
Retiro espiritual


Achou inútil; seu espírito já havia se retirado dele há tempos.

13.5.09

 
Minifato X
(a realidade goleando a ficção)



“Nós estávamos tão acostumados com aqueles quadros que nem lembrávamos que havia quase R$ 4 milhões na parede.”

12.5.09

 
Nossa igreja está crescendo


Este testemunho é pra provar como são infindas as ações do Senhor.

Como se fosse ontem, lembro dos primeiros dias. Dos voluntários carregando saquinhos de mercado pra colher as oferendas.

De dez, vinte pessoas, nossa fé foi atraindo mais irmãos que se multiplicaram no culto e cultivaram novos seguidores. A igreja lotando o galpão improvisado.

Depois, a sede nova, sedenta por mais gente pra beber da palavra. Com a graça do Pai, os fiéis esvaziavam as carteiras sobre os sacos; agora de veludo e com cordões dourados.

O dízimo dizendo que este era o caminho certo. O caminho do Senhor.

As contas da igreja, do cofrinho miúdo, pra poupança do banco. Na renda fixa. No CDB. Em fundos multimercado. Em derivativos atrelados ao dólar. Na bolsa. Só neste ano as ações já subiram 35,7%. O Ibovespa ultrapassando os 50 mil pontos. As commodities com alta de 21% desde o fundo. O saldo dos investidores estrangeiros no maior nível desde 2005.

Ah, mas voltemos a Lucas, capítulo XIII...

8.5.09

 
Minifato IX
(a realidade goleando a ficção)



Fez um transplante de face para não se reconhecer de novo.

5.5.09

 
Elevador


Soca o botão do alarme. Três, sete, quinze vezes. Nada. Berra. Berra mais alto. Ninguém. Esmurra a porta. Tenta puxá-la. Em vão. Aperta todos os botões. Quarenta minutos. Todos de novo. Grita. Duas horas e meia. Se desespera. Não é possível que todos tenham viajado no feriado. Alarme mais dez vezes. Murros, pontapés, raiva. O rateio da reforma ainda pesando no bolso. A conta vermelha no banco. A mão sangrando. E a merda ficou pior do que era. Sete horas já. Pensa em sair pelo teto. Cinco andares. Quebraria “só” as pernas talvez? Receberia pensão do INSS? Não, loucura. Melhor esperar. Tenta se acalmar. Aproveita pra pensar na vida. Como ela tinha mudado nos últimos anos. Pela primeira vez, sem emprego, salário fixo ou carro do ano. Estagnado. Como o elevador. E sem sonhos, o que é pior. Ou agora com o único sonho de sair dali. Desiste de pensar. O cansaço o fez dormir e perder a noção do tempo. Acorda. Mija pelo buraco da porta. Fome. Sede. E a incrível vontade de mudar de vida.

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