28.2.09

 
Minifato VI
(a realidade goleando a ficção)



Uma grande rede de supermercados colocou uma enorme caixa transparente lacrando as embalagens de camisinhas.
Algum artifício novo e especial para a “hora h”?
Não. Só mais um controle contra furtos.
Preço médio do produto: R$ 2,00.

17.2.09

 
O X da xenofobia

“Quem pode escapar ileso
Do medo e do desatino
Quem viu o pavio aceso do destino?”
Sérgio Sampaio

Pra gente da sua republiqueta, essas estiletadas não são agressão, mas sim noções de etiqueta.

Primeiro: não saia por aí falando outra língua que não a nossa. Esse grunhido incomoda. E perceberemos que você não é daqui, que não deveria estar aqui roubando nossos empregos, e não vamos estar nem aí em mandá-la pro inferno da sua nação de inanição.

Não exiba seu corpo e tom de pele. Não é de bom tom. E gente da nossa casta não gosta de ver pessoas dessa casca.

Se estiver casada com um dos nossos, que há louco pra tudo neste mundo, não procure um lugar ao sol em dias claros como hoje. Seu destino vai escurecer rapidinho.

Memorize essa aula na pele, mas não apele ou faça sensacionalismo por causa dela. Tudo e todos irão contra você. Afinal, foi você que nos agrediu antes com sua demorada visita.

Por fim: pegue seu passaporte e saia logo daqui. Somos menos gentis com alunos repetentes.

14.2.09

 
Minifato V
(a realidade goleando a ficção)


Dos dez livros de ficção mais vendidos nesta semana, só um (em 5° lugar) é de autor brasileiro.

9.2.09

 
11 Pontos de alagamento


1° Deixar chover, trovejar, tempestear e inundar carros, casas, vidas e sonhos.

2° Porque as promessas de campanha que farei na reeleição são mais fortes do que a memória do povo.

3° E povo sem memória (perdão pelo pleonasmo) e sem casa é voto certo na urna.

4° Se a chuva é divina, enchentes são diabólicas só pra quem tem o azar de morar em zonas de alagamento (há enchente nos Jardins?).

5° Se a enxurrada leva uns desavisados, a culpa é das escolas que não ensinam os pobres a nadar.

6° Encostas foram feitas para serem desencostadas, e se casas são soterradas, a falha é desses encostados que não procuram lugar decente pra viver.

7° Nada mais justo que esses porcos recebam na enxurrada o mesmo lixo que jogam nas ruas.

8° Se ele vem junto com ratos e leptospirose, o problema é do Ibama, não meu.

9° Vamos estar construindo mais três piscinões (meu marqueteiro vai chamar o César Cielo na inauguração).

10° Cada um tem o para-raios que merece.

11° E o da minha mansão é de ouro.

4.2.09

 
O pedido II


Fez uma cara de espanto tão grande que até a secretária, do tipo que recebe o dobro do salário por ser gostosa, percebeu.

Cumprimentou a mão que estendi como quem pega em cocô.

Depois, me olhou de cima a baixo como se estivesse procurando a marca da roupa.

Tinha um sorriso sarcástico e impaciência na cara e nos pés. Não fez uma pergunta. Era todo monossilábico. E pensar que esse corno dizia que era meu melhor amigo.

Procurei ser o mais simpático possível. Perguntei da esposa, dos filhos. Falei dos nossos tempos do curso, das festas, dos barzinhos. Agradeci as colas que ele passava. Elogiei até a aparência dele, apesar da feiúra e das rugas. Só por muito dinheiro pra ter conseguido se casar com uma mulher tão linda. Um bocó que antes não pegava nem a faxineira da faculdade.

Mas ele, nada. Parece que tava adivinhando o que eu tinha ido fazer lá.

Antes mesmo de ouvir o que eu ia pedir, o filho da puta disse que negaria.

E meu revólver coçando mais do que nunca na cintura.

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