29.4.08

 

MATA!



─ Foram eles!

─ (Coro): MATA! MATA! MATA!!!

─ Não, não foram eles!

─ (Coro): SOLTA! SOLTA! SOLTA!!!

─ Foram eles!

─ (Coro): LINCHA! LINCHA! LINCHA!!!

─ Não, não foram eles!

─ (Coro): SALVA! SALVA! SALVA!!!

─ Com certeza foram eles!

─ QUEIMA! QUEIMA! QUEIMA!!!

─ Peraí, pode não ter sido eles...

─ (Coro): (...).

─ Mas só pode ter sido eles.

─ (Coro): CERTEZA?

─ Certeza!

─ (Coro): LINCHA! LINCHA! LINCHA!!!

─ Mas e se...

─ (Coro): LINCHA! LINCHA! LINCHA!!!

─ E se...

─ (Coro): LINCHA! LINCHA! LINCHA!!!


***


─ E aí, morreram?

─ Morreram.

─ Não sobrou nada?

─ Nem um pedacinho.

─ Finalmente a gente fez justiça, né?

─ É.

─ Mas você ouviu que parece que disseram que talvez...

─ Só ouvi porrada e os corpos estrebuchando.

─ Tem mais alguém pra culpar?

─ Acho que não...

─ Tem mais alguém pra matar?

─ Acho que não...

─ Então, e o que a gente faz agora?

─ Ah, sei lá, vamos comer uma pizza.


21.4.08

 

Horóscopo


“Começa hoje uma boa época para você fazer projetos com amigos e com seu amor!” Nem o telefone toca mais. Mas prometi que não ia insistir de novo. “Mercúrio em Touro pede cabeça fria e diligência em encontrar meios realistas para executar esses planos.” Queria jogar uma bomba pra explodir tudo e sumir daqui. “Continue na empreitada íntima de se resguardar.” Tô há tanto tempo sozinho que já estou começando a estranhar minha própria companhia. “Lua e Vênus brindam você com sorte, favorecimento e amor.” Nada dá certo; só consigo realizar meus receios. “Fuja do vermelho”. E esse maldito sangue que demora tanto pra escorrer.


15.4.08

 

Casais



─ Namorados.

─ Que nada. São só amigos. O cara tá superesporte e ela com roupa de madame.

─ E daí? Mulher se arruma mais. E olhe lá, se beijaram.

─ Tá, ganhou mais uma. Mas aqueles são recém-casados.

─ Por quê?

─ Ele tá triste, mas se tivesse mais de um ano de casamento estaria pior.

─ Engraçadinho... Esses aí são noivos.

─ Mulher vê aliança de longe, né?

─ Não. A força com que tá abraçada é pra agarrar marido.

─ É, tá com jeito de quem quer desencalhar.

─ Os dois ali de preto: amigos.

─ Que nada. Não viu a cara dela quando ele olhou pra bunda da outra?

─ Mas nem tão de mãos dadas...

─ Olhe agora.

─ Nossa, você é boa nisso!

─ Ninguém ganhou de mim até hoje.

─ Acredito.

─ Os três: se separam daqui a um mês.

─ Como assim?

─ A velha é sogra e pelo olhar que deu pro filho vai detonar o casamento.

─ É, ele tem jeito de mãezinha mesmo.

─ Você também não erra muito.

─ Obrigado. Como você chama?

─ Então, tava aqui só descansando um pouco, mas tenho que ir.

─ Já?

─ Sim. Poxa, é uma pena que a gente não combine.


8.4.08

 

1° Encontro Internacional de Desencontros



─ Boa tarde. Sejam bem-vindos ao 1° Encontro Internacional de Desencontros.


(...)


─ Quer dizer, bem-vindos nada. Não sei o que estão fazendo aqui. Só um bando de desinfelizes como vocês para vir pra cá a esta hora, ainda mais pagando pra isso. O quê? Vieram pra se encontrar na vida? Que vida? Essa que vocês levam??? Rarará. Façam-me o favor! Como se fosse possível melhorar 0,01% qualquer coisa dessa rotina tão ordinariamente estúpida que insistem em cumprir. Tá bom. Sei que pagaram pra isso. Mas hão de concordar que mesmo eu, do alto de toda a minha sapiência e mestrados e doutorados, não posso consertar o que já nasceu errado. Se tivessem vergonha na cara, saberiam disso. Hã? Querem de volta o dinheiro das inscrições? Não é mais de vocês... É de alguém que saberá aproveitá-lo bem melhor. Eu, no caso. De resto, o seminário está acabado. Agora vocês podem e DEVEM ir embora e sumir da minha frente. Onde é a saída? Ainda acham que há saída pra vocês?


1.4.08

 

Dengue

No meu palácio, não há esse mosquito que só tira meu sono por causa desse povinho zunindo nas ruas.

Epidemia pra mim é essa gentalha que infesta postos de saúde, morrendo e hemorragindo as estatísticas que me levariam à reeleição. Cuidassem de si, não zanzariam por aí de chinelos e bermudas e shortinhos, fazendo do próprio corpo um convite à fornicação e a picaduras.

Mas o povo do país tropical, com samba no pé e vento na cabeça, fica voejando ao leu, achando que Aquele lá de cima estará sempre de braços abertos para proteger. Ou que os fechará pra matar o mosquito ou desviar balas perdidamente encontradas.

Não entendo como um mosquitinho causa tanta repercussão.

Morreram 67 pessoas? Tá, é triste. Mas nesta cidade maravilhosa há o carnaval, o Corcovado, Ipanema e outras coisas mais relevantes que os jornais esqueceram. A crise era anunciada? Lembro às massas que no Brasil sempre foi assim.

Não querem morrer de algo tão pequeno? Então primeiro reduzam a pequenez da sua insignificância!


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