27.5.07

 
Carrinho de batida

Poderia ser brincadeira de criança, se não tivesse conseqüências tão fatais que levassem qualquer um à morte sem nem mesmo ter passado pela terceira idade.

Aliás, idade é o que geralmente falta a esses que querem compensar a pouca vivência com a ganância de correr pra nunca chegar a lugar nenhum.

Falta também cabeça e, nela, neurônios sóbrios o bastante para domar os outros que ficaram pra lá de embriagados num corpo que não sabe apreciar com moderação.

Porque a alegria momentânea desses porres pode se transformar na tristeza eterna de uma porrada num poste.

Ou, pior, pode elevar-se ao quadrado subtraindo a vida de quem não tinha nada com isso e multiplicando a dor em famílias que ficarão divididas pra sempre.

Isso porque na vida real as batidas causam batidinhas bem menos inocentes do que as dos carrinhos de batida da sua infância.

E porque logo vai dar o sinal de que a diversão acabou e de que você precisa dar o seu lugar a outro que também quer participar da brincadeira.

23.5.07

 
A etérea esterilidade do meu desejo eterno e efêmero

Ainda que você seja tudo o que eu mais quero para mim agora, esse agora já é passado.

Tão passado quanto meu pensamento que a atraía, quanto minha imaginação que a endeusava e quanto meu olhar que a seguia até o infinito e que hoje não faz a nuca girar um milímetro sequer.

Porque um querer que já se sabe desquerer daqui a pouco, nunca vai arriscar-se gostar, precipitar-se paixão ou aventurar-se amor, essa palavrinha tão mágica que você adora repetir e cujo significado eu nunca soube.

Sei, porém, que quanto mais você me quer, mais me afasto de você pelo simples fato de não entender como uma pessoa pode amar alguém que não ama ninguém, nem a si próprio.

Mas louvo sua louvação por mim e sua luta incansável para descongelar um coração que seria mais útil como pedra de gelo no copo onde afogará suas mágoas.

E, por mais que a magoe, me perdoe desde já.

Tudo o que eu mais queria era querê-la para sempre.


14.5.07

 
Fudeu!

O bagulho já tava tretado pra caralho quando o Zóio chegou e disse: “Fudeu! Tão vindo uns dez pra pegá a gente e tão tudo maquinado”. “Porra, Marcão, tu é muito burro! Vai beijar logo a mina do cara? Num sabe que essa vaca goza só de ouvir som de pipoco?”. A saída foi se pirulitar do baile sem pagar, aumentando ainda mais a treta. Na esquina já deu pra ver os caras subindo a ladeira com sangue no olho. “E aí, o Dom Ruan? Cê não ia foder a mina? Agora arranja um jeito de não foder as nossas vida!”. Nisso ele lembrou de um primo que tinha um barraco perto onde dava pra nóis se mocozar. Nunca corri tanto. A gente entrô e, com o pulmão na mão, caímu na sala. “Marcão, se cê fizé outra dessa eu mato você!”. No que ele falô “relaxa, mano, tá tudo resolvido”, a gente ouviu um barulho estranho no banheiro. Vou lá, abro a porta e vejo o quê? O primo dele comendo a vagaba do cara. Já ia rir e falar que era mal de família quando os caras invadiram o barraco e não acharam nada engraçado...


7.5.07

 
Bem imóvel

Hoje eu comprei um apartamento para a minha depressão poder morar feliz da vida.

1.5.07

 
Roteiro turístico

─ Por favor, venham, venham. Mais pra cá, vocês aí do fundo, mais pra cá. Juntem-se mais. Isso, isso... Silêncio, por favor. Pronto.

E agora, senhoras e senhores, o tão aguardado momento: ali no alto, à sua esquerda, vocês podem ver o Furo. Caros amigos, este é o Furo!

(Em coro: “Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!".)

Único no mundo, este Furo, senhoras e senhores, como vocês sabem é resultado da bala que atravessou a cabeça dela e foi morar bem ali, em cima da minha cama, deixando este Furo que fica eternamente olhando pra mim.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?